BREVE HISTÓRICO DAS FOLIAS DE MINAS
A Folia de Reis é uma festividade religiosa que ocorre durante o ciclo natalino e teve seu início no século X, na Europa. Ela narra a viagem dos Reis Magos, Gaspar, Belchior e Baltazar, até a gruta de Belém, local onde teria nascido o menino Jesus. No Brasil, a festividade em nome dos Reis foi trazida pelos colonizadores portugueses, que já a realizavam em Portugal. Ela fez parte das dramatizações catequéticas feitas pelos padres jesuítas com o objetivo de difundir o Catolicismo entre negros e indígenas.
A Festa se configura como uma grande expressão cultural, na qual um grupo de pessoas se reúne com instrumentos musicais, roupas coloridas e outros ornamentos e saem em cortejo pelas casas durante vários dias. Alguns vão para as regiões rurais das cidades, andando pelas estradas, de fazenda em fazenda, sempre cantando para os moradores. À frente do cortejo segue o “ponteira”, anunciando a chegada dos foliões e marcando o lugar onde serão feitas as refeições e onde serão hospedados, dependendo da distância a ser percorrida. Ainda na comissão de frente segue-se a bandeira, símbolo sagrado da festa, que traz a pintura da natividade ou dos Três Reis Magos. Após a chegada na casa, a bandeira carregada pelo “alferes” abençoa o local e recolhe a oferta, que pode ser feita em dinheiro, alimentos, bebidas, animais, etc.
No que tange à musicalidade, são entoados três cantos: canto da chegada, canto de saudação à Lapinha e canto da despedida. A música é evocada pelo capitão do cortejo e os foliões respondem em coro.
A Folia de Reis tem variações de uma região para outra. Em alguns estados do Norte e Nordeste do Brasil, percebe-se uma forte influência da cultura indígena na celebração: as figuras são mais mascaradas, as vestimentas são mais coloridas e as bandeiras e instrumentos são mais ornamentados com flores, fitas e penas. No interior de São Paulo, em alguns estados do Nordeste e em Minas Gerais, a maior influência é da religiosidade africana, sobretudo nas regiões cafeeiras, canavieiras e nos garimpos.
De acordo com o Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais, IEPHA/MG, no Estado, especificamente, grupos de Folias se organizam a partir de sua devoção aos santos, como: Reis Magos, Divino Espírito Santo, São Sebastião, São Benedito, Nossa Senhora da Conceição, entre outros. Ordinariamente, são formados por cantadores e tocadores, podendo apresentar personagens, como reis, palhaços e bastiões, que visitam casas de devotos distribuindo bênçãos e recolhendo donativos para variados fins. Apresentam características regionais e as indumentárias variam de grupo para grupo, podem ser encontrados foliões que utilizam trajes militares, vestes de palhaço, máscaras ou roupas comuns. Os instrumentos que conduzem os cantos são as violas, violão, cavaquinho, pandeiro, bumbos, sanfona e caixas. Possuem como principal elemento simbólico a bandeira e organizam-se a partir de ritos, como o giro ou jornada, encontros, festas e cumprimento de promessas.
A Folia de Santos Reis em Campos Altos
Um dos maiores divulgadores da Folia de Reis na região do Alto Paranaíba foi o Padre Ananias de Aguiar, no início do século XX. O padre, natural do arraial de Santo Antônio do Pratinha, dava assistência religiosa em toda a região. À época, a cidade de Campos Altos ainda não existia e o ponto de referência do Município era a Fazenda Palestina de um lado e o arraial de São Jerônimo dos Poções de outro. Conta-se que o Padre Ananias passava semanas com uma multidão de foliões, pois era a melhor forma que encontrava de difundir os ensinamentos de Deus, visto que, por onde passava, o povo se reunia para ouvi-lo. Os foliões pediam esmolas em nome dos Santos Reis e os recursos arrecadados eram divididos. Uma parte era enviada para a Diocese de Uberaba e a outra era destinada à reforma e construção de igrejas na região.
Na atualidade existe em Campos Altos dois grupos de Folias de Santos Reis: o grupo Estrela da Guia, fundado em 2001 pela família de seu capitão, Antônio Candido da Silva, e o grupo Estrela da Manhã, de José Maria de Matos, fundada nos anos de 1950 por João Militão. Os referidos Ternos se apresentam na Cidade no período natalino, do dia 24 de dezembro a 06 de janeiro, todos os dias. Organizados em pequenos ternos, os grupos iniciam a caminhada por volta das 08h da manhã por um trajeto preestabelecido pelos foliões. Geralmente, eles passam pelas casas onde os moradores gostam da folia e ou serão cumpridas as promessas feitas por estes. Ademais, em algumas ocasiões durante o ano eles se apresentam para o pagamento de promessas de devotos, exceto no período quaresmal.
No que tange à indumentária, o Grupo Estrela da Guia, composto por cerca de quinze membros, possui três uniformes (branco, azul e amarelo), um jogo de tolha e uma faixa vermelha com o nome da folia. Já os quinze integrantes do Terno Estrela da Manhã têm camisas nas cores: verde, azul, estampado e bege e toalhas com a estampa de Santos Reis e Nossa Senhora Aparecida. Em relação aos instrumentos, são utilizados: violões, violas, sanfonas, cavaquinho, caixa (tambor) e pandeiro que são comprados pelos próprios membros dos grupos, assim como as vestimentas. Todos os dois Grupos possuem bandeiras, estandartes ornamentados e personalizados, conforme seus elementos de formação religiosa.
Além de se apresentarem em casas e ruas durante o ano, os grupos de Folias de Reis também realizam em Campos Altos, anualmente, o Encontro de Folias de Santos Reis, no último fim de semana de janeiro, no Santuário de Nossa Senhora Aparecida. O evento acontece desde 1982 e foi idealizado por Jairo Correia, Adolfo Francisco da Silva, Maurício Eusébio, Miguel Matos, entre outros, com o apoio de Diogo Ribeiro Andrade, prefeito do Município no início dos anos de 1980. O Encontro recebe muitos grupos da região do Alto Paranaíba e Triangulo Mineiro, como Araxá, Araguari, Sacramento, Bambuí, Candeias, Perdões, Campo Belo, e é considerado um dos maiores encontros de Folias de Santos Reis de Minas Gerais. A reitoria do Santuário Nossa Aparecida é uma das principais parceiras na organização do Encontro, ajudando na montagem de toda a infraestrutura e fornecendo papéis para os convites, cartazes, entre outros. A Prefeitura Municipal também ajuda os organizadores, promovendo a limpeza do local e auxiliando no transporte para a circulação das folias. A imprensa local e regional se faz presente divulgando e noticiando o evento.
Inicialmente havia aproximadamente quinze grupos de folias, compostos em média por doze pessoas, na cidade de Campos Altos, mas hoje restam apenas os dois, como já referido anteriormente. Tais folias foram extinguindo, ao longo do tempo, devido ao falecimento de seus membros e falta de interesse das novas gerações em continuar com a tradição. Os foliões da Cidade sempre se encontravam, antigamente tais encontros eram marcados por disputas entre os eles e o ganhador levava todas as ofertas do perdedor. Perdia o grupo que não soubesse entoar os cantos do “fundamento”, contido na Bíblia Sagrada. Hoje eles somente encontram, se cumprimentam e beijam a bandeira um do outro e, caso, algum membro de um grupo queira cantar para o colega de outro, ele o faz. Além de se apresentarem em Campos Altos, os foliões fazem intercâmbio em outras cidades da região e contam com o apoio da Prefeitura Municipal que providencia o transporte a baixo custo.