BREVE HISTÓRICO DA FESTA DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO E DE SÃO BENEDITO DE CAMPOS ALTOS

BREVE HISTÓRICO DA FESTA DE NOSSA SENHORA DO ROSÁRIO E DE SÃO BENEDITO DE CAMPOS ALTOS

A Festa de Nossa Senhora do Rosário, São Benedito de Campos Altos é uma celebração que preserva e reforça os laços religiosos e sociais da população local. A origem da Festa está na devoção à Virgem do Rosário, protetora dos negros escravizados, numa região onde a presença negra sempre foi forte. A ocupação do território onde hoje se insere o município de Campos Altos se deu em fins do século XVI, por sertanistas em busca de metais preciosos e escravos indígenas. Por ser uma região isolada e com terras férteis, o lugar atraiu muitas pessoas, inclusive escravos fugidos das regiões auríferas, que ali criaram vários quilombos. A área chegou a ficar conhecida como Sertão dos Quilombos por causa disso. O distrito de São Jerônimo dos Poções que faz parte do município de Campos Altos foi fundado por mineradores, pequenos roceiros e quilombolas.

As celebrações religiosas feitas ao longo dos séculos XVIII, XIX e XX em Minas Gerais, além de marcarem a religiosidade do povo mineiro, marcaram também os meios de sobrevivência dos vestígios da cultura afrodescendente. Nesse contexto, a Festa de Nossa Senhora do Rosário e seu Congado compõem o patrimônio cultural não apenas da população de Campos Altos, mas também do povo mineiro. Registros escritos são raros, tornando necessário o uso da memória social por meio de fontes orais.

Segundo a tradição oral, a Festa e o Congado de Campos Altos faz parte das expressões culturais da Município há mais de um século. O início da Festividade é impreciso, mas as principais referências são das famílias de Francisco Virgínio e Bernardino José Ferreira. Conforme relato de Helenice dos Santos Silva, Capitã Mor da Guarda de Moçambique Luz Divina, sua família participa da Festa há mais de 150 anos, junto com a família dos Bernardinos. Os precursores do Congado em Campos Altos foram o senhor Bernardino José Ferreira e o senhor Francisco Virgínio que era descendente de escravos e residia no distrito de São Jerônimo das Poções, pertencente a Campos Altos. Na década de 1970, o Sr. Francisco mudou-se para a Sede do Município e deu continuidade à Festa que já acontecia em São Jerônimo dos Poções.

A senhora, Elza Bernardino Raul, (86 anos), neta do senhor Bernardino José Ferreira, “velho Bernardino”, afirma que a Festa começava sempre na casa do Francisco Virgínio ou na residência do seu avô, no atual bairro Camposaltinho, com o levantamento das bandeiras, na sexta feira e dela participavam praticamente só o povo daqui mesmo. Não vinham ternos de outras cidades. Em Campos Altos existiam outros Ternos naquela época, além do Moçambique (o capitão mor de tal grupo era Francisco Virgínio), haviam grupos de Catopé e de Vilão.

A celebração começava na sexta e terminava na segunda à tarde e ocorria no mês de outubro. Dona Elza lembra que tinha ensaio o mês inteiro da festa, na casa do avô dela.  Segundo ela, o Congado era muito antigo e não tinha “muito enfeite”, nem muitos reis e rainhas: “A Rainha Perpétua era a tia Chica e o rei perpétuo era o tio Basílio. A Rainha da Bandeira era a Madá”. Os congadeiros tinham seu uniforme, mas o avô dela se recusava a lavar todos e cada um cuidava do seu, assim como cada um tinha o seu instrumento. Já havia programação na sexta, com o levantamento do mastro na Igreja Matriz de Santa Terezinha do Menino Jesus, situada no bairro Santa Terezinha. No sábado as guardas saiam da casa do Francisco Virgínio ou do Bernardino e iam até a Igreja Matriz de Santa Terezinha do Menino Jesus, levantar o mastro. Não existia ainda a Igreja de São Sebastião, fundada em 1984, no bairro Camposaltinho. Os congadeiros eram recebidos pelos moradores, que ofereciam abrigo e alimento.

A Rainha Conga, Eva de Fátima Pereira da Silva, nora de Francisco Virgínio, conta que quando teve contato com a Festa pela primeira vez, em 1974, ela ainda acontecia tendo como ponto de referência a casa do sogro. No fim da década de 1970, a convite dele, ela foi coroada como Rainha Conga da Festa e permanece até hoje.

Com o falecimento do Senhor Francisco Virgínio, em 1986, ficaram responsáveis pela continuidade da festa os seus filhos: José da Silva, conhecido como Ziquinha, e Jerci Francisco da Silva. A atual Capitã Regente da Guarda de Moçambique Luz Divina, Cláudia Aparecida Batista Silva, neta de Francisco Virgínio, lembrou que depois que o avô ficou doente, ele passou o comando da Festa para seu tio Ziquinha até este ficar doente também, passando o comando para o irmão, Jerci Francisco da Silva: a festa aí já teve mudança. O ritmo do Moçambique mudou, de serra abaixo para serra acima”. Claudia explicou a diferença: “Serra abaixo” era lento, mais senhores de idade que dançavam e usava-se sanfona. “Serra acima” é mais rápido, usam gunga e são dançarinos mais jovens. Ela relatou como ingressou no congado: “já nasci dentro da Festa. Meu avô, Francisco Virgínio, comandava e minha mãe era festeira e rainha. (…) desde pequena já tinha convivência. Meu avô tinha uma bandeira de promessa e um dia passou mal. Eu tava perto e peguei a bandeira. Depois, quando tava com 12, 13 anos, passei a carregar a bandeira. Carreguei por muito tempo”.

Houve uma mudança significativa no trajeto da Festa a partir da conclusão da construção da Capela de Nossa Senhora do Rosário, no bairro Nossa Senhora Aparecida, em 1988. Na ocasião começou-se a discutir o deslocamento do trajeto dos congadeiros para também passar pela Capela, relativamente distantes da Igreja Matriz e na Igreja de São Sebastião, onde a festa tradicionalmente ocorria. A iniciativa de construção da Capela foi liderada pelo então pároco, Jorge Corrêa, com o apoio do líder comunitário da época, Paulo Ferreira Carvalho, e devotos de Nossa Senhora do Rosário. A obra iniciou no fim dos anos de 1980, com a compra de um lote, adquirido com o dinheiro doado pelo benfeitor Francisco Sebastião Ferreira, conhecido na Cidade como Chico Raimundo, falecido em 2019. A partir de então, devido a mobilização da Paróquia local, Prefeitura Municipal, grupos de congado, conseguiram erguer o templo. Na atualidade a Capela integra a programação da Festa, embora alguns tenham resistência em visitá-la, alegando estar distante das outras igrejas que, tradicionalmente, fazem parte do trajeto dos congadeiros.

Em 05 de agosto de 1989, constituiu-se a Associação de Folia de Reis, Congados e Blocos Caricatos de Campos Altos (ARCA), com a finalidade de reunir as demandas dos devotos e de representar os foliões e congadeiros da Cidade, conforme consta na primeira ata de reunião de tal Instituição. A pretensão era discutir questões como a união de grupos de congadeiros, atribuições de tarefas na organização e execução da Festa, a promoção de eventos, a arrecadação de verbas e o registro dos integrantes de cada grupo e seus respectivos capitães. A Associação foi criada pelo esforço e desejo das principais lideranças dos grupos da cultura popular de Campos Altos, como os congadeiros, João Gregório da Silva e Salvador Gonçalves Ferreira, o folião, Maurício Eusébio, e ainda, contou com o apoio e participação do então Vice-Prefeito e Secretário Municipal de Esportes, Lazer e Cultura, José Ribeiro da Silva.

No Livro de Atas de Reunião da Associação há registros até julho de 2009, na ata de 12 de março de 1999 consta a eleição de um Conselho de Congado, tendo como primeiro general: José da Silva (Ziquinha) e Vice General: Jerci da Silva, como já citado no texto, eles eram irmãos e organizadores da Festa do Rosário de Campos Altos. Na gestão do então prefeito municipal, Diogo Ribeiro Andrade (1989-1992), ele doou um terreno no bairro Camposaltinho, para a Associação, no qual foi construída uma pequena Capela, dedicada à Nossa Senhora do Rosário, sob a liderança do congadeiro, Salvador Gonçalves Ferreira. Desde sua construção o espaço era frequentado basicamente pelo grupo de congado (catopé) do Salvador, mas devido ao seu falecimento, em 2006, o recinto religioso está em desuso. A intenção da filha dele, Aparecida de Fátima Correia, é reativar a Capela para que os grupos de congadeiros a visitem, na ocasião da Festa do Rosário, pois era um desejo do seu pai e agregará devotos à Festividade.

Na atualidade, devido ao falecimento de vários líderes da Associação: do Salvador Gonçalves Ferreira, Moises Taveira de Souza Neto, Maurício Eusébio, dentre outros, a Associação está inativa. Entretanto, durante o período que estava ativa, os associados empenharam em organizar, fomentar os grupos populares da Cidade, promovendo reuniões para definir programação, distribuição de tarefas na realização dos eventos feitas por eles. Inclusive, em 28 de julho de 2009, tendo Moisés Taveira de Souza Neto, como presidente, foi constituída uma Comissão de Congadeiros, presidida por Jair José da Costa e o vice-presidente era Lucimar José da Costa. De acordo com a ata da reunião da Associação, a intenção da comissão era realizar o 1° Encontro Regional de Congadeiros de Campos Altos, no Santuário de Nossa Senhora da Aparecida, e a criação de um fundo de reserva, a partir de 20% da renda líquida adquiridos durante o evento, coma finalidade de dar a devida manutenção aos instrumentos e uniformes dos congadeiros, ajudar com viagens para outras cidades e na organização da Festa, como a distribuição do almoço. Tiveram três edições do Encontro (2009, 2010 e 2011), mas não houve continuidade na realização do evento, por desarticulação dos envolvidos.

Em 17 de outubro de 2007, o senhor, Jerci Francisco da Silva, faleceu, ficando responsável por dar continuidade à tradição, a sua filha, Helenice dos Santos Silva, atual capitã mor da Guarda de Moçambique Luz Divina, ela disse que seu pai foi o fundador de tal grupo: “já existia uma guarda de Moçambique em Campos Altos, chamada Moçambique Velho, com pessoas mais experientes, mas esse terno foi desaparecendo por morte ou mudança de religião. Foram se desprendendo” O Jerci teria chamado os parentes e começado uma nova guarda com o nome de Moçambique Luz Divina, em 13 de maio de 2005. Quando Jerci morreu, o comando deveria ter ido para seu filho, Reginaldo Santos Silva, mas acabou ficando com Helenice. Na liderança, em 2008, fez uma festa em homenagem ao pai e procurou revitalizar a Festividade. Criou-se grupos de trabalho, fizeram rifas e conseguiram adquirir os primeiros instrumentos – as caixas de couro – que receberam os nomes de Santana, Santaninha e Bimba. Segundo Helenice, buscaram um Moçambique tradicional, falado na língua da Angola.

Além da guarda de Moçambique, tradicional da família Virgínio, tinham outras guardas importantes em Campos Altos: “tinha o Cacunda, do finado José Jerônimo e a Guarda Catopé do senhor Salvador Gonçalves Ferreira, de Catopé, do Seu Paulino”. Entretanto, infelizmente, de acordo com Helenice, por uma série de coisas (religião, preconceito, vaidade, falta de conhecimento e de fé), as pessoas foram “se perdendo” do congado. A maioria das pessoas que participam hoje da Guarda de Moçambique são pessoas “de pouco conhecimento que são movidas realmente pela fé”. Ela relatou ainda que na adolescência teve vergonha e achava o Congado “esquisito”. Participava contrariada pois não entendia nada. Hoje se sente rica por ter “essa cultura dentro da família”, pois foi adquirindo entendimento. Como Capitã Mor, tem o compromisso não apenas de coordenar os grupos dentro da Cidade, mas de “ser cúmplice mesmo na cultura, vestir a camisa mesmo da tradição, saber calar, saber ouvir, saber falar. O capitão é tudo isso”.

Assim como Helenice, a maioria dos participantes das guardas, “já nasceu dentro do Congado”, exemplo disso é o João Hérickles da Silva, filho da capitã regente, Cláudia Aparecida Batista Silva, ele é 4º Capitão da Guarda de Moçambique Luz Divina. O gosto pela Festa, segundo ele, “vem de herança, desde o bisavô”. Ficou também uma época longe, mas voltou porque “o gosto vem de dentro”. Recentemente, ele e sua irmã, Lorraine Felícia da Silva, integrante do Luz Divina, acham que os grupos de congado estão perdendo gente, como festeiros, participantes e público. Eles relatam que a perda maior se encontra na transmissão dos saberes relacionados à festividade, aos toques, danças e práticas. Apesar disso, muitos jovens também têm se interessado pela tradição, modificando assim a forma como é realizada a Festa. Como solução para esse problema, enfrentado por diversos grupos culturais, eles acreditam que o Congado deveria ser levado às escolas e eventos onde fosse possível mostrar o seu significado e ensinar aos mais jovens que a Festa é a riqueza e a fé deles. Helenice, reforça essa argumentação, dizendo que é imprescindível trabalhar com os jovens: “Porque os velhos estão morrendo e os jovens não querem saber. Sabe porque não querem saber? Porque não conhecem. Se eles não têm conhecimento, como eles vão participar de uma coisa que eles não conhecem, né? Os entrevistados reforçaram que o amor pelo Congado vem dos ensinamentos passados para eles pelos mais velhos. Dayvison Vinícius Santos Silva, 1º Capitão da Guarda de Moçambique Luz Divina, e neto de Jerci Francisco, disse que o avô ensinava a ele e seus irmãos e primos “brincando”: nós brincávamos de congado desde criança e sabíamos que seria a gente mesmo a partir de que os mais velhos falecessem. Essa tradição é passada através do tempo e assim como o avô, eles seguem a tradição de passar os ensinamentos aos mais jovens. Dayvison acredita que apesar da modernidade e das redes sociais, que ajudam, são os laços que fortalecem a celebração: “é ir na festa, ajudar, ter fé. Todo mundo tá junto, é um pegando na mão do outro” O enfrentamento ao preconceito, vindo principalmente do desconhecimento, também se faz necessário segundo os participantes da Festa. Vitor Hugo dos Santos Silva, 2º Capitão da Guarda de Moçambique Luz Divina, relatou que: muitos entendem que a festa é mais pro lado do Candomblé e tudo mais, mas a festa é mais Católica, né, que a gente vai na Igreja, assiste a missa, tem devoção aos santos.

Apesar das dificuldades enfrentadas para continuidade à realização da Festa do Rosário, que segundo João Hérickles vão desde ensaiar, pois alguns vizinhos não gostam “do barulho”, até a falta de informação, interesse, apoio financeiro e logístico, os congadeiros continuam resistindo. Especificamente, o Grupo Moçambique Luz Divina possui vinte integrantes, com faixa etária entre 06 e 60 anos, nas apresentações são caracterizados com as vestimentas: calça e camisa branca, saiote vermelho, rosários, homens usavam chapéu branco e mulheres turbantes na cabeça. Nos pés amarram latinhas perfuradas e cheias de pedrinhas que produzem um som específico.

A partir dos relatos dos entrevistados percebe-se que em Campos Altos, ao longo do tempo, já existiram diversas guardas de congado que foram extintas, principalmente, pela perda de seus comandantes, como por exemplo, a guarda do senhor Salvador Gonçalves Ferreira (Catopé), José Jerônimo (Cacunda), João Jerônimo (Catopé), Paulino Ferreira Neto (Catopé), Marina Germana (Catopé), Juliano (Vilão), etc. Ademais, a organização desses grupos fora fluida e dispersa. Visivelmente, os descendentes do Senhor Francisco Virgínio conseguiram manter a frequência das atividades da Guarda de Moçambique, liderando majoritariamente a organização e realização da Festa do Rosário na Cidade. Na atualidade existe em Campos Altos mais duas guardas de congado. A Catopé de São Benedito, fundada em 2009, por Rogério Aparecido Barnabé. Ele conta que sua vivência com o congado começou ainda criança, pois seu pai, José Soares Barnabé, era congadeiro. Ademais, na sua infância enfrentou uma pneumonia, sendo curado graças à Nossa Senhora do Rosário que atendeu um pedido de sua mãe. Por causa dessa benção alcançada, Rogério passou a “dançar” o congado e partir de então não parou mais, já participou de outros grupos, como o do seu padrinho Salvador Gonçalves Ferreira, até que resolveu criar sua própria guarda. Atualmente, é o 1º Capitão do Terno Catopé São Benedito que é formado por cerca de 30 membros, com idade variada entre 05 e 69 anos. As cores das vestimentas dos membros do Grupo é calça preta e a camisa nas cores: verde, vermelho, amarelo e azul que é estampada com imagem de São Benedito na frente, alguns usam chapéu de diversos tipos. A indumentária do capitão se destaca por ser toda branca com cordão e rosários transpassados até a cintura. O comandante ainda usa um quepe e um bastão. O terno mais recente da Cidade é a Guarda Catopé Pena Verde, criada em 2016, sendo o 1º capitão: Walter Teodoro dos Reis e 2º capitão: Paulo Hermes dos Santos. O senhor, Paulo iniciou no congado aos 17 anos de idade, no terno Catopé Treme Terra, comandado pelo congadeiro, Paulino Ferreira Neto, nesse grupo ele evoluiu até exercer o cargo de capitão. Devido ao falecimento do senhor Paulino o Terno se desfez. A fundação do Grupo Catopé Pena Verde foi motivada pela iniciativa do cunhado do senhor Paulo, Amarildo Giovani de Souza, neto de outro atuante congadeiro da Cidade, João Jerônimo, ele desejava retomar a prática do congado aprendida com seu avô. A Guarda conta com 20 membros entre 12 a 80 anos, sob o comando do Amarildo e do Paulo, os integrantes ensaiam todo sábado, no salão comunitário da Capela de Nossa Senhora do Rosário, no horário de 19 às 20 horas. As cores das vestimentas dos integrantes do Grupo são: calça azul, camisa branca com franja verde e chapéu com fitas coloridas nas costas, alguns usavam chapéu de diversos tipos. O comandante é identificado por usar um bastão com fitas coloridas, cordões no pescoço, rosários transpassados até a cintura. As guardas: Catopé São Benedito e Catopé Pena Verde, participam, anualmente, da Festa do Rosário, ademais, frequentam outras fora do Município.

Embora a convivência entre as religiões seja complementar à Festa, não se pode negar que o Congado reforça os laços sociais da população afrodescendente. A Festa de Nossa Senhora do Rosário também é responsável pela formação de uma rede solidária, formada entre seus membros e participantes. Para Paulo Cézar de Almeida, atual Prefeito de Campos Altos (2016-2020) e também Rei Perpétuo da Festa, essa tradição que é passada pelas famílias da Cidade se modifica a medida que novos integrantes compõem os grupos devotos e participam de todas etapas da festividade, desde doações, até a recepção dos visitantes.

Como dito, a presença negra é a razão primeira que dá sentido à Festa do Rosário desde o mito fundador da celebração, onde a Santa teria preferido as homenagens dos negros às realizadas pelos brancos. Essa predileção marcou a identificação de Nossa Senhora com os sofrimentos e injustiças sofridos pelos negros escravizados e sua devoção na atualidade reforça a resistência ao preconceito e a discriminação.

Atualmente, a Festa ocorre no terceiro fim de semana de maio, é realizada pelo Grupo Moçambique Luz Divina com o apoio das outras guardas locais, Paróquia Santa Teresinha do Menino Jesus e Secretaria Municipal de Cultura e Turismo. Na sexta-feira às 19 horas é realizado pelas guardas locais o levantamento da bandeira do mastro de Nossa Senhora do Rosário, na Capela de Nossa Senhora do Rosário, no Bairro de Nossa Senhora Aparecida. No sábado, às 19 horas, as guardas locais rezam o terço na sede do Reino, situada na Rua Jorge Lemos, 358, onde fazem o levantamento das bandeiras de promessa, em seguida saem em cortejo até a Igreja São Sebastião, em seu adro são levantados os mastros de São Benedito e Nossa Senhora do Rosário. No domingo, acontece a alvorada, chegada das guardas visitantes, café da manhã, busca-se o Coroado da cidade, procissão, missa conga, almoço comunitário, procissão com destino a Praça Benedito Valadares, onde ocorre as apresentações das guardas e encerramento da Festa. A festividade conta com a participação de ternos de outras cidades como Araxá, Ibiá, Sacramento, Córrego Danta, Bambuí, Luz, Pará de Minas, Carmo do Paranaíba, Arcos, Itaúna. A celebração é sem dúvida uma expressão cultural que se encontra enraizada nas práticas culturais e na vida social da Cidade. Os grupos de Congo e Moçambique e outros participantes do evento, refletem em seus comportamentos a memória, a identidade e os valores que permeiam a história e a tradição da Festa que é um dos elementos formadores da cultura religiosa e festiva de Campos Altos.

Atendendo ao pedido da Capitã Regente do Grupo Moçambique Luz Divina, Cláudia Aparecida Batista Silva, a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo realizou, durante o ano de 2019, o processo de Registro da Festa de Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito de Campos Altos. Por seu valor religioso, histórico e cultural a Festa foi declarada como Patrimônio Cultural Imaterial de Campos Altos, no dia 31 de outubro de 2019, pelo Conselho Municipal do Patrimônio Cultural e homologada pelo Decreto Municipal nº 450/2019. Tal titulação significa que a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo atuará juntamente com grupos de congados locais na realização de ações de preservação desse valioso bem cultural para contemporaneidade e futuras gerações.

 

Fonte: Processo de Registro Festa de Nossa Senhora do Rosário e de São Benedito de Campos Altos, Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, Campos Altos, 2019. 300p